sábado, novembro 06, 2010

A nossa árvore: o Sobreiro



As asso­ci­a­ções Tran­su­mân­cia e Natu­reza e Árvo­res de Por­tu­gal pre­ten­dem, com o pre­sente comu­ni­cado, lan­çar um movi­mento que visa desen­ca­dear o pro­cesso de atri­bui­ção ao sobreiro do esta­tuto sim­bó­lico de Árvore Naci­o­nal de Portugal.

Para fun­da­men­tar esta pre­ten­são, encontram-se, entre outros, os seguin­tes motivos:

- Por ser uma espé­cie com ampla dis­tri­bui­ção no ter­ri­tó­rio naci­o­nal con­ti­nen­tal, pre­sente desde o Minho ao Algarve, em dife­ren­tes ecos­sis­te­mas natu­rais. O sobreiro ocupa em Por­tu­gal perto de 737 000 hec­ta­res (dados do Inven­tá­rio Flo­res­tal Naci­o­nal de 2006, não incluindo alguns povo­a­men­tos jovens), o que cor­res­ponde a cerca de 32% da área que a espé­cie ocupa no Medi­ter­râ­neo ocidental.

- Pela enorme bio­di­ver­si­dade asso­ci­ada aos habi­tats domi­na­dos pelo sobreiro, incluindo espé­cies em sério risco de extin­ção e com ele­vado esta­tuto de con­ser­va­ção, con­si­de­ra­das pri­o­ri­tá­rias a nível naci­o­nal e internacional.

- Pelo facto dos mon­ta­dos serem um exce­lente exem­plo, de como um sis­tema agro-silvo-pastoril tra­di­ci­o­nal pode ser sus­ten­tá­vel, pre­ser­vando os solos e, desse modo, con­tri­buindo para evi­tar a deser­ti­fi­ca­ção e con­se­quente despovoamento/desordenamento do território.

- Pela cres­cente rele­vân­cia que os bos­ques de sobreiro e os mon­ta­dos, incluindo a bio­di­ver­si­dade asso­ci­ada, estão a con­quis­tar junto de novos sec­to­res, como o sec­tor do turismo, traduzindo-se numa mais-valia para as popu­la­ções locais e para a eco­no­mia naci­o­nal. Sublinhe-se que, na actu­a­li­dade, exis­tem enti­da­des liga­das a este sec­tor de acti­vi­dade, que pre­ten­dem can­di­da­tar o mon­tado a Patri­mó­nio da Huma­ni­dade, com base no reco­nhe­ci­mento de que se trata de um ecos­sis­tema único no mundo.

- Pela sua impor­tân­cia eco­nó­mica e social, resul­tante do facto de Por­tu­gal pro­du­zir cerca de 200 000 tone­la­das de cor­tiça por ano (mais de 50 % do total mun­dial), sendo este sec­tor o único onde o nosso país pos­sui uma posi­ção de lide­rança a nível inter­na­ci­o­nal, desde a matéria-prima até à comer­ci­a­li­za­ção, pas­sando pela trans­for­ma­ção. A perda desta lide­rança repre­sen­ta­ria um des­ca­la­bro eco­nó­mico, social e ambi­en­tal sem para­lelo para o nosso país.

As duas asso­ci­a­ções que subs­cre­vem este docu­mento tudo farão para que, futu­ra­mente, se pos­sam jun­tar a este movi­mento, diver­sas ins­ti­tui­ções naci­o­nais e todos os cida­dãos a título indi­vi­dual que assim o dese­jem, incluindo todos os que, directa ou indi­rec­ta­mente, estão rela­ci­o­na­dos com a cul­tura do sobreiro e com os pro­du­tos e ser­vi­ços que depen­dem desta espé­cie e das for­ma­ções vege­tais que domina, com espe­cial des­ta­que para a indús­tria corticeira.

Esta­mos cien­tes que, ape­sar da vigên­cia do Decreto-Lei n.º 169/2001, há ainda um longo cami­nho a tri­lhar, junto das diver­sas ins­tân­cias da soci­e­dade, para se con­se­guir uma sen­si­bi­li­za­ção que con­duza a uma efec­tiva pre­ser­va­ção desta espé­cie e dos valo­res bio­ló­gi­cos, pai­sa­gís­ti­cos, eco­nó­mi­cos e cul­tu­rais asso­ci­a­dos à mesma.

A clas­si­fi­ca­ção do sobreiro como Árvore Naci­o­nal de Por­tu­gal, pode­ria, em adi­ção ao sim­bo­lismo do acto, aju­dar a tor­nar mais visí­veis os gra­ves pro­ble­mas asso­ci­a­dos, no pre­sente, à cul­tura e pre­ser­va­ção desta espé­cie, con­tri­buindo, desta forma, para aumen­tar a pres­são no sen­tido de se alcan­ça­rem as solu­ções neces­sá­rias para os mesmos.

Algo­dres, 30 de Outu­bro de 2010

Asso­ci­a­ção Tran­su­mân­cia e Natu­reza
Asso­ci­a­ção Árvo­res de Portugal