terça-feira, abril 14, 2009

O carvalho do Sr. Teixeira e outras histórias (I)

Recebi há tempos um curiosíssimo e-mail do Sul do Brasil, mais propriamente de Curitiba, de alguém que partilha comigo, e com muitos dos leitores deste blogue, um imenso amor às árvores.

Foi assim que conheci o Mauricio Valle, pelo interesse comum nas árvores que nos rodeiam.

No Sul de Portugal, onde os Invernos são mais amenos, é possível encontrar algumas espécies ornamentais com origem no Brasil, como a bela-sombra e a paineira, apesar de não serem tão frequentes como outras espécies sul-americanas, caso do jacarandá e da tipuana.

Por outro lado, no Sul do Brasil, onde o clima se aproxima mais dos padrões europeus, é possível encontrar algumas espécies do Velho Continente, levadas por sucessivos fluxos migratórios de europeus em direcção a terras de Vera Cruz.

E foi esta viagem transatlântica de algumas das árvores mais comuns da nossa paisagem, que levou o Mauricio a escrever-me...

Tudo começou com um passeio do Mauricio por Curitiba e com a descoberta de uma árvore, cujas folhas despertaram nele a maior das curiosidades.
Uns meses depois, o Mauricio encontrou, na biblioteca local, a resposta à sua curiosidade: tratava-se da folha de um carvalho europeu, o nosso alvarinho ou roble (Quercus robur L.).

Mas, longe de ter visto a sua curiosidade saciada, esta descoberta apenas aguçou o seu interesse pela descoberta e identificação de carvalhos. Foi assim que ele descobriu, em Curitiba, vários exemplares de alvarinho, mas também um Quercus cerris L. (cujo nome em português poderia ser "carvalho-da-turquia") e ainda vários carvalhos da América do Norte (Quercus rubra L., Quercus palustris Muenchh e Quercus coccinea Muenchh); curiosamente, estas são igualmente as espécies de carvalhos norte-americanos mais plantadas em Portugal.

A ocorrência de carvalhos europeus não se restringe a Curitiba, no estado do Paraná, e segundo refere o Mauricio é possível encontrá-los um pouco por todo o Sul do país, em particular no estado mais meridional do Brasil, o Rio Grande do Sul.

Esta situação está relacionada com factores climáticos e com o facto deste ter sido o destino preferencial dos imigrantes com origem na Alemanha e na Polónia, que procuraram terras brasileiras em finais do século XIX, e que terão sido os principais responsáveis pela introdução de carvalhos na flora ornamental do Brasil.


No geral, estes carvalhos têm um porte reduzido mas um gigante esperava o Mauricio bem perto das suas origens familiares.

Carvalho monumental (Quercus sp.) - Nordeste do estado do Rio Grande do Sul (Brasil)

Foi numa viagem ao nordeste do estado do Rio Grande do Sul, bem perto do local onde nasceu o seu avô, que o Mauricio encontrou o maior de todos os carvalhos que já pôde observar no Brasil, o fantástico exemplar ilustrado na imagem anterior.

Apesar de todos os seus esforços, pouco mais conseguiu saber, junto dos habitantes locais, sobre este belíssimo carvalho que, presumivelmente, será um roble.

O único facto que conseguiu apurar é que o mesmo terá sido plantado, há muitos e bons anos, por um senhor de apelido Teixeira, imigrante ou descendente de imigrantes portugueses. Provavelmente, há bem mais de um século, a julgar pelas dimensões dessa majestosa árvore.

Sabendo como o apelido Teixeira é comum no Norte de Portugal, não me custa imaginar um português saudoso do seu Minho ou Beira natal, a tentar recriar, no além-mar, as paisagens da terra que o viu nascer. Mas isto já é a minha imaginação a construir um filme...

Pudesse o Sr. Teixeira vir de novo a este mundo, a terras do Rio Grande do Sul, e ficaria profundamente orgulhoso do momento em que decidiu por uma bolota na terra que o acolheu.




E é um pouco desse amor que o Mauricio tenta recriar nos vasos da sua varanda...

O amor do Sr. Teixeira pelos carvalhos sobreviveu ao passar das gerações e continua vivo em cada pessoa que coloca uma bolota enterrada num vaso.

(Continua...)

9 comentários:

a d´almeida nunes disse...

Uma história do maior romantismo pelas árvores e pelas nativas aqui do nosso canto Europeu.
O Q. roble é uma das árvores de que mais me tenho interessado. E não se pode dizer que não haja muito s e bonitos exemplares no nosso país.
Mas no Brasil, receber-se notícias de tanto carinho por estas árvores, é de encantar.
Uma história a continuar, Paulo. Sem dúvida.
Um abraço
António

Rafael Carvalho disse...

Confesso que esta história despertou em mim alguma emoção...

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

É impossível para quem nutre real afecto às nossas árvores (que são parte da nossa paisagem e identidade), não se emocionar com esta história.

Foi um pouco desses sentimentos que experimentei ao ler o e-mail do Mauricio que quis partilhar com os leitores da "sombra verde". No fim-da-semana publico a segunda parte.

Abraço a ambos.

Miguel Jorge disse...

Esta história comoveu-me , até porque tenho uma muito parecida passada com o meu avõ .Um dia conto-a no meu blog.
obrigado

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Olá Miguel,

É preciso partilhar estas histórias; ajudar a restabelecer uma ligação entre as pessoas e as árvores, a qual é totalmente desconhecida de quem vive nas cidades e perdeu, ou nunca teve, esses antecedentes rurais.

Lembro-me ainda duma referência do Saramago ao seu avô que, pressentindo a chegada da morte, quis abraçar todas as árvores da sua propriedade antes de partir...

Fabiano disse...

Bom dia,

Vi seu post e gostaria de saber como fizeste para ter as mudas de carvalho. Estou a muito tempo atras de uma e espero que possa me ajudar. Tambem sou um apaixonado por arvores, especialmente os carvalhos...

Parabens pela Materia!

Fabiano (Porto Alegre-Brasil)

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro Fabiano,

O mais provável é que o Mauricio não leia o seu comentário para lhe responder quanto à sua pergunta.

Deste modo, responderei eu por ele...O Mauricio obteve estes carvalhos a partir de bolotas que recolheu de carvalhos em Curitiba e na região.

Ricardo Costeira disse...

Caro Pedro,
Moro em Curitiba e tenho verdadeira paixão por carvalhos. gostaria se possivel de obter o email ou outra forma de contato do sr. mauricio para visitar essas belissimas arvores na cidade. Caso ele nao queira passar informações de contato, poste aqui no seu blog o endereço das arvores, essa informação inclusive pode ajudar a preserva-las de futuras tentativas de corte por pessoas ignorantes da importancia historica desses belissimos monumentos da natureza.

Unknown disse...

Caro Pedro!

Adorei esta postagem, gostaria por favor de obter o contato do rapaz do Rio Grande do Sul que lhe enviou a foto do Carvalho! Preciso de algumas folhas para fazer um remédio à um familiar, e a árvore não se encontra com facilidade aqui no Brasil!

Fico no aguardo!
Meus sinceros agradecimentos.
Matheus