sábado, dezembro 01, 2007

Uma tarde de Outono em Monchique (I)

Faz amanhã 15 dias, passei uma magnífica tarde de Outono em Monchique, com um conjunto de amigos e de árvores. Sendo que para mim existe uma natural concordância entre amigo e árvore...

Comigo andou o Miguel Rodrigues, o Luís Baiona (antigo colega e natural de Monchique) e ainda o senhor Mário Duarte (autor do magnífico O Parente da Refóias) e o seu compadre Joaquim Assunção (tirador de cortiça e grande conhecedor de todos os recantos da serra).

Foi uma proveitosa tarde de convívio e de descoberta de alguns recantos menos visitados da Serra de Monchique, sendo que para nós a colaboração dos senhores Mário Duarte e Joaquim Assunção foi indispensável para a descoberta de algumas árvores que ambicionávamos conhecer e fotografar.
Ainda que de antemão já soubéssemos a localização aproximada destas árvores através da ajuda do blogue Mons Cicus, o qual tem também ajudado a divulgar este importante património natural de Monchique, a verdade é que sem esta ajuda extra não as teríamos encontrado com tanta facilidade.

Infelizmente, sabíamos que algumas destas árvores tinham sido atingidas pelos grandes incêndios dos últimos anos, em concreto os que ocorreram em 2003. Tal foi o caso do sobreiro (Quercus suber L.) do Barranco dos Pisões*, classificado em Maio de 2002 e que, pouco mais de um ano depois, viria a sofrer as dramáticas consequências da passagem das chamas (podem ver aqui uma imagem tirada um ano após o incêndio pelos amigos do Dias com Árvores).

*nas imediações do plátano classificado (ver aqui e aqui).

Como podem constatar pelas imagens que se seguem, este magnífico sobreiro (com um perímetro de tronco que ronda os quatro metros e meio), apesar de ter sobrevivido à passagem do incêndio, encontra-se num avançado estado de degradação e receio que não resista mais do que alguns escassos anos. É uma coisa que dói e que, simultaneamente, nos comove ao observar-se a forma algo desesperada como este gigante de 200 anos ainda se agarra à vida...

Um gigante que, como nos contou o compadre Joaquim Assunção, chegou a dar 50 arrobas de cortiça!

Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões

Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões

Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões

Apesar do descrito, este sobreiro do Barranco dos Pisões consta ainda da lista das árvores classificadas do nosso país. Por último, e como nota de esperança, ao medirmos e fotografarmos esta árvore, acabámos por descobrir ao longe um outro sobreiro de grandes dimensões, o que nos encheu a alma de esperança de que, apesar de tudo, ainda subsistem outros gigantes que sobreviveram incólumes ao inferno das chamas.

No entanto, tal não foi o caso deste outro sobreiro situado no Lugar da Maia, retratado nas duas fotografias que se seguem. Apesar de ter sido menos atingido pelas chamas e de, por este motivo, aparentar maior vitalidade, não mais voltará a ser a árvore que já foi em tempos...E que árvore, com um perímetro de tronco de cerca de 4,80 metros!

Sem nunca ter sido classificado, este sobreiro é ainda assim, amputado de parte da sua anterior grandiosidade, uma árvore que nos seduz e nos remete à humildade e ao silêncio da contemplação. Nem mesmo a estupidez humana foi capaz de lhe retirar a beleza. A Natureza age de forma misteriosa...

Sobreiro (Quercus suber L.) - Lugar da Maia

Sobreiro (Quercus suber L.) - Lugar da Maia

P.S.- Este tipo de tragédias, que ciclicamente afectam as nossas paisagens, não me podem deixar sossegar sobre o futuro de sua majestade, como carinhosamente o decidi baptizar, e que será hoje o maior sobreiro de Monchique e um dos maiores de Portugal.

2 comentários:

MaD disse...

Obrigado pelas referências.
Em meu nome e do meu compadre Joaquim que, entre muitas outras coisas, aprendeu a tirar cortiça como poucos, mas, infelizmente, não teve oportunidade de frequentar uma escola para poder ler as suas simpáticas palavras.
Ficamos à espera da parte II.
Um abraço.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Amigo Mário,

Foi uma tarde muito bem passada...e embora estas palavras possam soar a "cliché" não deixam de ser menos verdade: o seu compadre Joaquim tem aquela sabedoria imensa que a vida nos dá e só ela sabe ensinar.

Um abraço aos dois.