segunda-feira, junho 04, 2007

O sobreiro

Um dos poucos sobreiros de dimensões generosas que sobreviveu aos recorrentes incêndios na serra de Silves.


O Sobreiro

Num ermo, sobre um morro, o vale em frente,
Eis-me a pregar, à Natureza inteira,
O Amor: celeste, pura e verdadeira
Doutrina, lei de quanto vive e sente.

Profeta, eu sou: ungiu-me o sol ardente.
Filho da terra virgem. Vivo à beira
Da fonte, e tenho sede! E morde a poeira
Minha folhagem lúcida e morrente!

Como preguei o Sacrifício e o Amor,
Ferem-me os homens: dão -me o escárnio e a dor:
Deixam-me, nu e em sangue, ao vento e à luz.

E, sobre o negro cerro solitário,
Sou como o Cristo ao cimo do Calvário,
Abrindo os braços, pálidos e em cruz!

António Correia de Oliveira

in "A Alma das Árvores"


1 comentário:

R disse...

A ver se esse sobreiro resiste a este Verão... tomara que sim.