segunda-feira, dezembro 31, 2007

Procura-se explicação...

Pequeno núcleo de eucaliptos e mimosas - imediações da A23 entre a Covilhã e Belmonte

Um pouco por toda a Cova da Beira o cenário é idêntico ao ilustrado por esta fotografia. Os eucaliptos e as mimosas (esta em menor extensão) apresentam este aspecto, com a folhagem ressequida. É um cenário que se estende ao longo do vale do Zêzere, entre o Fundão e Belmonte, e que não se limita apenas a uma pequena parcela de território.

A questão que eu deixo aos leitores com experiência no sector florestal é se esta situação derivará de uma qualquer doença ou se, pelo contrário, ilustra apenas os efeitos das geadas severas que se têm feito sentir nas últimas semanas.

domingo, dezembro 30, 2007

A bela e os monstros









Foto 1: uma tília.
Fotos 2, 3 e 4: caricaturas monstruosas de árvores que um dia também foram tílias.

Covilhã, Bairro do Rodrigo (mas, na realidade, podia muito bem ser em qualquer outro bairro...)

sábado, dezembro 29, 2007

A beleza da bétula

Bosque de bétulas (Betula sp.) - Serra da Estrela, Dezembro de 2007

"As bétulas, também conhecidas por vidoeiros, são das árvores mais belas que em Portugal podemos encontrar nas montanhas de maior altitude...", Fernando Catarino (Árvores e Florestas de Portugal, Volume 5).

P.S. - Como já anteriormente tinha mencionado, muitos botânicos, como Jan Jansen, insistem em que a bétula autóctone da Estrela (e da generalidade das montanhas ibéricas) é a Betula celtiberica Rothm. & Vasc. Para os defensores desta corrente, a Betula pubescens Ehrh. é uma espécie distinta, exótica na Estrela, com a agravante de entretanto ter começado a formar híbridos com a dita espécie autóctone.
No entanto, tal como referido por Fernando Catarino na citada obra, existe hoje outra corrente que defende a agregação destas bétulas europeias numa única espécie; daí aparecerem como sinónimos em muitos guias de árvores as seguintes designações: Betula alba L., Betula pubescens Ehrh. e Betula celtiberica Rothm. & Vasc.
Deste modo, e para não ferir susceptibilidades, identifiquei as árvores da imagem apenas com a designação Betula sp.
No entanto, o mais importante é sublinhar que estas "polémicas botânicas" não afectam em nada a beleza destes bosques, realçada pelo manto branco da neve...

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Recantos de Braga

Sobreiro (Quercus suber L.) - zona de Santa Tecla (Braga)

A cidade de Braga apesar de não ter nenhum parque urbano consentâneo com a sua dimensão, possui alguns recantos verdes ainda aprazíveis.
Tal é o caso deste pequeno espaço junto à Rua Jaime Sottomayor, na zona de Santa Tecla, que possui um pequeno núcleo de árvores autóctones, com vários exemplares de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) e um sobreiro (Quercus suber L.) de dimensões generosas (um dos maiores exemplares em meio urbano que conheço no nosso país).

Exemplares de carvalho-alvarinho(Quercus robur L.) - zona de Santa Tecla (Braga)

Infelizmente, o vasto património arbóreo das ruas de Braga continua a saque, um pouco como acontece por todo o país. Desde que há uns anos caiu um tília na Avenida Central, as árvores passaram a ser encaradas como um inimigo público a abater nesta cidade; já se sabe, para o autarca português, árvore decepada é árvore que não cai!....


P.S. - E para terminar uma boa notícia: o presidente da Associação Amigos da Serra da Estrela, José Maria Saraiva, foi distinguido como figura do ano na área do Ambiente pelo Rádio Clube Português e pelo jornal diário gratuito Metro. Parabéns e continuação do bom trabalho! Notícia no Diário XXI.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Galerias de amieiros

Galeria ripícola dominada pelo amieiro [Alnus glutinosa (L.) Gaertner] - arredores da Covilhã

O amieiro [Alnus glutinosa (L.) Gaertner] é uma das espécies presentes nas galerias ribeirinhas do nosso país, sendo particularmente abundante no noroeste do território continental, onde predomina a influência atlântica.

Nos arredores da Covilhã, em freguesias como o Canhoso ou a Boidobra, encontram-se com facilidade algumas galerias de amieiros ao longo de pequenos cursos de água afluentes do Zêzere.

Para Sul, com o aumento da influência mediterrânica, a espécie torna-se menos frequente, embora esteja presente inclusivamente no Algarve (exemplo: na zona de Monchique).


Folhagem do amieiro [Alnus glutinosa (L.) Gaertner]

O amieiro é uma espécie caducifólia que pode atingir os 30 metros de altura e que, tal como muitas outras espécies arbóreas da nossa flora autóctone, está muito subaproveitada em termos do seu potencial ornamental.

A época da estupidez






O Natal não traz apenas boas notícias; para as árvores, por exemplo, esta época assinala o início de uma época de sacrifícios.

Estas imagens foram recolhidas ontem nos arredores da Covilhã, mas poderiam ter sido recolhidas em qualquer outro ponto da nossa geografia. Está aberta a época da estupidez, da "dendrofobia" e do "arboricídio", a partir de agora e até ao início da Primavera qualquer motivo é válido para decepar uma árvore!...

Lutamos contra uma cultura de ignorância, de medo (o eterno receio que as árvores nos caiam em cima!...) e de conformismo perante este terrorismo arbóreo patrocinado pelas autarquias.

Até quando?

segunda-feira, dezembro 24, 2007

I'm dreaming of a white Christmas

Covilhã sob forte nevão (vista do meu quarto na manhã de quarta-feira de cinzas, 1991-02-13)

Ao contrário da minha irmã e dos meus pais, não me recordo de nenhum Natal branco; mas recordo-me de alguns Carnavais com bastante neve, como este da imagem.

Não foi apenas a neve que ficou no passado...Também o enorme plátano (quase imperceptível sem folhas), bem no centro da fotografia (ver ampliação do mesmo sob este parágrafo), foi sacrificado em nome do progresso; decepado para dar lugar a mais um mamarracho.



Era a primeira coisa a chamar a minha atenção, ao acordar, quando levantava a persiana. Foi crescendo comigo e, de alguma forma, é uma das árvores da minha vida.

Inevitavelmente, as coisas da nossa vida, sobretudo se forem árvores, parecem destinadas a ter uma duração muito limitada...


P.S. - Apesar desta introdução um pouco tristonha, desejo a todos os que têm a paciência de me ler e que comigo partilham o amor pelas árvores, um Natal muito feliz.

domingo, dezembro 23, 2007

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Aproximando...

Covilhã e Serra da Estrela (vistas a partir de Peraboa, 2007-12-21)

Um pequeno resumo dos últimos dias, relativo a notícias sobre árvores; boas e más...como sempre!

Comecemos pelas más:

- Do Ondas 3, a divulgação de mais um "arboricídio", desta vez na Figueira da Foz (denúncia no blogue O Ambiente na Figueira da Foz);

- Ao lermos a edição de ontem do Jornal do Fundão, mais concretamente a página 7, deparamos com a prova definitiva do amor que os portugueses nutrem pelas árvores; reza assim a história: um homem, na última segunda-feira à noite, munido de um serrote, decidiu cortar uma árvore situada numa das principais artérias do centro da cidade do Fundão (a Avenida Eugénio de Andrade)! Dá para acreditar nisto? Acrescente-se o pormenor de o homem, ao ser detido pela GNR, não ter apontado quaisquer justificações para o seu acto.
E porque as haveria de dar, se todos os dias deparamos com atropelos contra o património arbóreo das cidades a mando das próprias câmaras municipais e das juntas de freguesia (?!)

Covilhã e Serra da Estrela (vistas a partir de Peraboa, 2007-12-21)

E depois desta história sórdida, bem que estamos a precisar de boas notícias:

- No blogue Maria Pudim duas notícias sobre árvores chamaram-me a atenção: a primeira notícia é relativa ao desejo da Associação Lisboa Verde de replantar numa zona verde da cidade, os pinheiros naturais utilizados durante esta época natalícia. Bastará para tal que os interessados contactem por telefone (21 3906899) a referida associação.
Convirá apenas recordar que nem todas as resinosas naturais vendidas nesta quadra, ainda que com raiz, estão em condições de ser replantadas; esta situação deriva do facto de muitas destas árvores serem vendidas com as raízes fortemente amputadas, pelo que apenas sobrevivem durante algumas semanas.
A segunda notícia refere-se ao reaproveitamento de árvores provenientes de grandes obras públicas, como a construção da Via do Infante, e que de outro modo acabariam por morrer; este é um objectivo muito nobre, que permitiu salvar milhares de árvores, nomeadamente as resultantes da desmatação que ocorreu aquando da construção do Alqueva.
No entanto, esta boa notícia pode vir a ter no futuro uma evolução menos sorridente. O elevado valor que muitas destas árvores atinge na actualidade, em particular as oliveiras, faz-me temer pelo aparecimento de outro fenómeno bem menos positivo; ou seja, que as pessoas comecem a vender as oliveiras (centenárias e mesmo milenares) que possuem nos seus terrenos, a troco do muito dinheiro que envolve este tipo de negócios.
E se num futuro próximo, as nossas melhores oliveiras (muitas das quais estão por classificar), começarem a ser arrancadas e vendidas para o estrangeiro ou mesmo para empreendimentos turísticos do nosso país? Alarmismo da minha parte? Veremos...

- Através do blogue Fases da Lua Cheia chega-nos a notícia via Alvor de Sintra, da reflorestação com espécies autóctones de uma zona com 50 hectares envolvente ao Convento dos Capuchos, anteriormente ocupada por espécies invasoras (acácias e pitósporos);

- A campanha "Um milhão de carvalhos para a Serra da Estrela" continua em marcha e desta vez contou com o apoio de um pelotão de fuzileiros da marinha (o Ondas 3 dá-nos a ligação para a notícia do Diário XXI).

- O Blog Verde tem divulgado várias acções de reflorestação com espécies autóctones na Serra da Lousã, resultantes da iniciativa da Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã.

- Por último, a Associação Transumância e Natureza entregou no passado Sábado, dia 15 de Dezembro, os prémios relativos ao concurso "Em Busca da Maior Árvore"; por gentileza desta associação, acabei por me ver envolvido na parte final desta iniciativa, já que me foi solicitado o parecer sobre algumas das árvores a concurso (convite que muito me honrou).
Não vou, por motivos óbvios, divulgar a localização ou outros dados sobre as árvores, pois tal deverá ser feito pela entidade organizadora.
No entanto, e por que tal já foi divulgado na comunicação social regional (nomeadamente no jornal O Interior, que na sua edição desta semana traz uma notícia sobre este assunto), posso adiantar que entre as árvores descobertas está um magnífico carvalho-negral que será, sem sombra de dúvidas, um dos mais grossos do nosso país.

O meu preferido

Azevinho (Ilex aquifolium L.) - Covilhã (Rua Pedro Álvares Cabral)

Nestes dias de Inverno, numa cidade como a Covilhã, onde a meio da tarde a luz é já um bem escasso, nem sempre é fácil encontrar o momento certo para capturar uma imagem. Apesar de tudo, sou dos que prefere esta luz preguiçosa de Inverno à luz sufocante e baça do Verão.

Por tudo isso, e até pela quadra que estamos a atravessar, apesar das condições de luz não serem as melhores, como facilmente se constata por este conjunto de fotografias,
decidi não mais adiar esta partilha há muito planeada...

Azevinho (Ilex aquifolium L.) - Covilhã (Rua Pedro Álvares Cabral)

De todos os azevinhos que conheço na Covilhã, este é o meu preferido; situado num jardim particular, o seu porte alto e esguio marca o horizonte a quem entra pelo lado norte da Rua Pedro Álvares Cabral.

Azevinho (Ilex aquifolium L.) - Covilhã (Rua Pedro Álvares Cabral)

Recorde-se que o azevinho é uma planta dióica, pelo que apenas os exemplares femininos, como o da imagem, apresentam a típica frutificação de cor vermelha.
Por este mesmo motivo, são geralmente os exemplares mais sacrificados pelo arranque ilegal, apesar da legislação criada para proteger esta espécie (Decreto-Lei n.º 423/89 de 4 de Dezembro).

Para alguns botânicos, o azevinho será uma das espécies que sobreviveu ao último período glaciar, tendo-se "adaptado" posteriormente às novas condições (Atlântico-mediterrânicas).
Dentro da área do Parque Natural da Serra da Estrela, o azevinho tem uma distribuição muito residual, limitada a indivíduos isolados.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

A tramazeira e o b(r)anco

Penhas da Saúde (Covilhã - Serra da Estrela), 2007-12-20


O general Inverno chegou à Estrela, pintando-a de branco; o vermelho do fruto das tramazeiras (Sorbus aucuparia L.) marca o contraste com a uniformidade do branco envolvente.

Penhas da Saúde (Covilhã - Serra da Estrela), 2007-12-20

P.S. - Por momentos, apetece-me imaginar esta paz como sendo eterna e não adivinhar os dias de enchente que se aproximam, com as toneladas de resíduos que serão (como sempre) abandonadas por aqueles que, com a mesma facilidade, fazem centenas de quilómetros para ver a neve e não hesitam am abandonar todo o tipo de lixo à sua passagem.

sábado, dezembro 15, 2007

Antes e depois

O antes... Araucária-de-norfolk (Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco - Loulé

O depois... Araucária-de-norfolk (Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco - Loulé

De entre todas as podas que tenho visto, esta será daquelas para a qual me custa mais encontrar uma explicação. Que motivos poderão estar na base de uma intervenção como esta? Estará o corte à "máquina zero" de nova na moda?

quinta-feira, dezembro 13, 2007

A alegre tristeza da oliveira


















"...con la alegre tristeza del olivo".

MIGUEL HERNÁNDEZ
(1910-1942) - Poeta espanhol



Oliveiras fotografadas por Miguel Rodrigues (concelho de Loulé, Outono de 2007).



P.S. - Tal como já tinha escrito aqui, nos próximos dias o ritmo de publicação de textos será inferior ao normal. Obrigado e bom fim-de-semana.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Bolotas ao vento



Aproveitando a semana em que se comemorou o Dia dos Bosques Autóctones (23 de Novembro), o Clube Outros Ambientes da minha escola, decidiu semear algumas bolotas num terreno nos arredores de Silves.



Os entusiastas membros deste clube, dirigido pela professora Florbela Cabrita, semearam algumas dezenas de bolotas de alguns Quercus autóctones de Portugal: azinheira (Quercus rotundifolia Lam.), carvalho-de-monchique (Quercus canariensis Willd.) e sobreiro (Quercus suber L.).

Esperamos na próxima Primavera ter boas notícias para contar...

terça-feira, dezembro 11, 2007

A minha montanha e a dos outros

Aproveitando que hoje, dia 11 de Dezembro, se comemora o Dia Internacional das Montanhas, decidi publicar (com algumas alterações) um comentário que deixei num texto do Cântaro Zangado (que por sinal, com 2 aninhos, está de parabéns!):


Somiedo, Astúrias (Espanha), Agosto de 2007



Valle del Lago é uma aldeia de montanha nas Astúrias; é mesmo uma "aldeia de montanha", não foi criada por decreto, por cartaz (tipo outdoor) ou por "acto consumado" (entenda-se, por resultado de ocupação ilegal do território).


Em Valle del Lago quase toda a gente vive do turismo; aproveitaram a elevação de Somiedo a Parque Natural e os respectivos fundos comunitários para recuperar as casas de modo a receber turistas (mantendo a arquitectura tradicional das Astúrias, sem imitar a arquitectura nórdica!). Estas casas estão grande parte do ano ocupadas por pessoas que aí passam alguns dias aproveitando para fazer caminhadas e outras actividades.

Por exemplo, a dona da casa onde fiquei hospedado, tem ainda um outro negócio de passeios a cavalo. Os turistas deixam dinheiro que é repartido por grande parte da comunidade, fazem compras no comércio tradicional, compram produtos locais (como a sidra, por exemplo). Acresce que este tipo de turismo de Natureza está em crescimento e que este tipo de turistas têm um poder de compra frequentemente acima da média (e que apreciam os produtos locais).


E isto acontece porque a montanha não foi rasgada por estradas, ou seja, não convida ao turismo de passagem. Os turistas, se querem conhecer a região, têm que passear a pé ou a cavalo, por exemplo; têm que pernoitar e, como ficam mais do que um dia, acabam por movimentar o pequeno comércio local. Porque não há estradas que os levem a todo o lado, não se convida as pessoas a tudo verem num só dia e abalarem, sem sequer sair do carro. Se calhar eles é que estão errados!...



Isto é turismo sustentável; turismo sem enchentes, como deve ser em áreas sensíveis de montanha, ainda para mais sendo Parque Natural e Reserva da Biosfera (tal e qual como uma determinada serra do Centro de Portugal). Toda a gente está feliz com a criação do Parque que melhorou o nível de vida das pessoas, permitiu a criação de novos negócios, ao mesmo tempo que não afectou a conservação da Natureza.

Em Somiedo não existem monopólios turísticos de nenhuma empresa; não há skiparques, bungalows nórdicos, projectos de casinos ou de campos de golfe nos vales (entenda-se, em leitos de cheia...).



Era assim que eu gostava que fosse o turismo na Serra da Estrela; que criasse riqueza, emprego e permitisse fixar as pessoas na região, ao mesmo tempo que garantisse a preservação da Natureza da Estrela: a sua maior riqueza! Em vez disso, temos os monopólios que se conhecem e um turismo cada vez mais massificado, que insiste em rasgar a Serra com cada vez mais estradas.

Isto, aliado a novas vias como a A23 e a A25, faz com que aumente o número de turistas que visitam a Serra da Estrela; mas são turistas que, na sua esmagadora maioria, regressam a casa no próprio dia; não dormem na hotelaria, nem comem nos restaurantes locais. Sim, eu sei que por estes dias, entenda-se Natal, Passagem de Ano e Carnaval, as unidades hoteleiras da região registam enchentes, mas essa porção de turistas corresponde a uma fracção ínfima dos que passam pela Serra da Estrela. E, literalmente, limitam-se a passar!....


Pelo contrário, estes turistas abandonam todo o tipo de lixo e porcaria à sua passagem. Ir à Torre, num daqueles fins-de-semana de início de Primavera, com engarrafamentos monumentais e gente a deitar lixo para todo o lado, pode ser das experiências mais deprimentes que se podem ver no nosso país.

Aproxima-nos culturalmente do 3º Mundo e, não fora ser tão frequente igualmente noutras zonas do país, poderia até ser vendido como pacote turístico: "Torre, PNSerra da Estrela, onde vive a porcaria e a falta de civismo"!


Este turismo de "saco de plástico" é fomentado por todos aqueles que insistem em defender mais e mais estradas e obras perfeitamente megalómanas, como a de ampliar estâncias de esqui a 1900m de altitude no Sul da Europa! Esqueçam o Sr. Bush, na Serra da Estrela vivem os verdadeiros cépticos do aquecimento global!


De volta a Valle de Lago...enquanto bebia um copo de sidra num dos cafés da aldeia, o dono dizia que aquando da criação do PNatural de Somiedo a única coisa que os habitantes locais pediram foi que não asfaltasssem a estrada até aos lagos; tinham medo que isso transformasse os lagos numa lixeira...e assim se fez a vontade das gentes locais, só sobe aos lagos quem gosta de andar a pé, que são os mesmos que "dormem" na aldeia, ou seja, fazem mover a economia local. Dei comigo a pensar que aquele ancião, ainda que provavelmente nunca tendo ido à escola, sabia mais de turismo do que muitos dos que mandam na minha Serra da Estrela. Juro que tive uma vontade genuína de chorar, não tanto pelo estado a que deixámos chegar a nossa Serra mas mais por ainda não termos aprendido nenhuma lição. Nem daqui a 10 anos teremos este tipo de mentalidade...



Longe de mim querer transmitir uma ideia de que tudo em Espanha é perfeito e que tudo em Portugal está errado. Antes pelo contrário!...

Mas, por comparação com o tipo de turismo que se pratica nas zonas de montanha nas Astúrias, por cá estamos ainda na Idade da Pedra da educação ambiental e do turismo sustentável. Por cá, prefere vender-se a ideia de que os ambientalistas querem fazer da Serra da Estrela uma reserva de índios e que estão contra o turismo. Não, a vida não se limita a extremismos, a 8 ou 80. Não estamos contra o turismo, estamos contra o turismo que blogues como o Cântaro Zangado, por exemplo, tantas e tantas vezes denuncia nas suas contradições.



E estamos também contra a ideia que se quer transmitir que o Parque Natural da Serra da Estrela e a conservação da Natureza são os responsáveis pelos grandes males da serra: os incêndios florestais, as construções ilegais, o trânsito desordenado e caótico, os mamarrachos abandonados, o ex-sanatório enguiçado, o lixo por todo o lado ou os esgotos que correm a céu aberto. Na Serra da Estrela, mais depressa se esbarra numa barraca de zinco do que num exemplo concreto de conservação da Natureza.


É triste mas é verdade. Mas não terá que ser sempre assim, pois não?!....


P.S. - Neste dia, não poderia deixar de recomendar esta fotografia.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Dias com larícios

Plantação de larícios (Larix decidua Miller) - Serra da Estrela

O larício ou lariço-europeu (Larix decidua Miller) é uma espécie exótica, oriunda dos Alpes e dos Cárpatos, plantada na Serra da Estrela, nomeadamente na zona entre a Porta dos Hermínios (junto ao antigo sanatório) e a Pedra do Urso.

Esta conífera tem a particularidade de ser caducifólia, o que lhe confere um elevado valor ornamental, apesar de muito raramente ser plantada em jardins do nosso país, ao contrário do que acontece com outras coníferas dos géneros Cedrus, Cupressus ou mesmo com as pseudotsugas.


Larícios (Larix decidua Miller) - Serra da Estrela (Pedra do Urso)



P.S. - Este texto foi dedicado ao José, um grande apreciador dos larícios! A todos um bom fim-de-semana.

Como acontece sempre nesta altura do ano, estou soterrado em testes para corrigir, notas para reflectir e muita outra documentação para preencher, pelo que é natural que o ritmo de publicação de textos diminua nas próximas duas semanas. Obrigado.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Uma tarde de Outono em Monchique (II)

Castanheiro (Castanea sativa Mill.) - Serra de Monchique


A tarde de Domingo passada em Monchique, de que falei neste texto, permitiu ainda a descoberta de outras árvores, como o castanheiro (Castanea sativa Mill.) que mostro nestas fotografias. É uma árvore de grandes dimensões, perdida num recanto da Serra de Monchique, entre o Barranco dos Pisões e a Fóia (tal como em relação aos sobreiros de que falei no passado Sábado, só foi possível encontrá-la com a ajuda dos amigos Mário Duarte e Joaquim Assunção, a partir de um texto do blogue Mons Cicus).

Este belo exemplar, ainda que não seja comparável ao famoso castanheiro de Guilhafonso (Guarda), nomeadamente ao nível da grossura do tronco, possui uma altura e diâmetro de copa assinaláveis. Por certo que será um dos maiores, ou mesmo o maior, castanheiro do Sul do país.

Altura = 27 m
Perímetro à altura do peito = 3,95 m
Diâmetro máximo da copa = 26 m

Castanheiro (Castanea sativa Mill.) - Serra de Monchique


P.S. - Esta jornada permitiu ainda a descoberta de uma magnólia (Magnolia grandiflora L.) de grandes dimensões, de que falaremos em próximos dias. Recorde-se que em Monchique existe uma outra magnólia da mesma espécie, situada junto ao Convento de Nossa Senhora do Desterro, classificada de interesse público e considerada a maior magnólia do nosso país.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Festival de Árvores #18 (November Arborea)

Serra da Estrela

Mais uma edição do Festival of the Trees, a 18ª, para ler no blogue Riverside Rambles.


Uma notícia da edição online do El Mundo: O UNEP (United Nations Environment Programme) anunciou que a campanha "Plant for the Planet: Billion Tree Campaign", iniciada há cerca de um ano, foi um sucesso e conta até ao momento com mais de mil e quinhentos milhões de árvores plantadas (500 milhões acima do inicialmente previsto).

domingo, dezembro 02, 2007

Eu gosto...

Medronheiro (Arbutus unedo L.) - Serra de Monchique

Medronheiro (Arbutus unedo L.) - Serra de Monchique

...de medronheiros. E é tudo. Bom Domingo.

sábado, dezembro 01, 2007

Uma tarde de Outono em Monchique (I)

Faz amanhã 15 dias, passei uma magnífica tarde de Outono em Monchique, com um conjunto de amigos e de árvores. Sendo que para mim existe uma natural concordância entre amigo e árvore...

Comigo andou o Miguel Rodrigues, o Luís Baiona (antigo colega e natural de Monchique) e ainda o senhor Mário Duarte (autor do magnífico O Parente da Refóias) e o seu compadre Joaquim Assunção (tirador de cortiça e grande conhecedor de todos os recantos da serra).

Foi uma proveitosa tarde de convívio e de descoberta de alguns recantos menos visitados da Serra de Monchique, sendo que para nós a colaboração dos senhores Mário Duarte e Joaquim Assunção foi indispensável para a descoberta de algumas árvores que ambicionávamos conhecer e fotografar.
Ainda que de antemão já soubéssemos a localização aproximada destas árvores através da ajuda do blogue Mons Cicus, o qual tem também ajudado a divulgar este importante património natural de Monchique, a verdade é que sem esta ajuda extra não as teríamos encontrado com tanta facilidade.

Infelizmente, sabíamos que algumas destas árvores tinham sido atingidas pelos grandes incêndios dos últimos anos, em concreto os que ocorreram em 2003. Tal foi o caso do sobreiro (Quercus suber L.) do Barranco dos Pisões*, classificado em Maio de 2002 e que, pouco mais de um ano depois, viria a sofrer as dramáticas consequências da passagem das chamas (podem ver aqui uma imagem tirada um ano após o incêndio pelos amigos do Dias com Árvores).

*nas imediações do plátano classificado (ver aqui e aqui).

Como podem constatar pelas imagens que se seguem, este magnífico sobreiro (com um perímetro de tronco que ronda os quatro metros e meio), apesar de ter sobrevivido à passagem do incêndio, encontra-se num avançado estado de degradação e receio que não resista mais do que alguns escassos anos. É uma coisa que dói e que, simultaneamente, nos comove ao observar-se a forma algo desesperada como este gigante de 200 anos ainda se agarra à vida...

Um gigante que, como nos contou o compadre Joaquim Assunção, chegou a dar 50 arrobas de cortiça!

Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões

Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões

Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões

Apesar do descrito, este sobreiro do Barranco dos Pisões consta ainda da lista das árvores classificadas do nosso país. Por último, e como nota de esperança, ao medirmos e fotografarmos esta árvore, acabámos por descobrir ao longe um outro sobreiro de grandes dimensões, o que nos encheu a alma de esperança de que, apesar de tudo, ainda subsistem outros gigantes que sobreviveram incólumes ao inferno das chamas.

No entanto, tal não foi o caso deste outro sobreiro situado no Lugar da Maia, retratado nas duas fotografias que se seguem. Apesar de ter sido menos atingido pelas chamas e de, por este motivo, aparentar maior vitalidade, não mais voltará a ser a árvore que já foi em tempos...E que árvore, com um perímetro de tronco de cerca de 4,80 metros!

Sem nunca ter sido classificado, este sobreiro é ainda assim, amputado de parte da sua anterior grandiosidade, uma árvore que nos seduz e nos remete à humildade e ao silêncio da contemplação. Nem mesmo a estupidez humana foi capaz de lhe retirar a beleza. A Natureza age de forma misteriosa...

Sobreiro (Quercus suber L.) - Lugar da Maia

Sobreiro (Quercus suber L.) - Lugar da Maia

P.S.- Este tipo de tragédias, que ciclicamente afectam as nossas paisagens, não me podem deixar sossegar sobre o futuro de sua majestade, como carinhosamente o decidi baptizar, e que será hoje o maior sobreiro de Monchique e um dos maiores de Portugal.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Eucaliptos de Monchique





Entusiasmados por este texto do blogue Mons Cicus e aproveitando este Outono soalheiro, lá partimos para Monchique em busca de mais árvores monumentais.
Neste caso, fomos fotografar e medir um conjunto de três eucaliptos (que me parece serem da espécie Eucalyptus globulus Labill.), situados junto ao Centro de Saúde. Nestas fotografias retratamos apenas os dois de maiores dimensões.

Ambos superam os 5 metros de P.A.P. e os valores de altura são igualmente impressionantes, situando-se perto dos 40 m*.

* para o primeiro eucalipto (duas primeiras fotos) obtivemos valores superiores; no entanto, temos razões para crer ter existido um erro derivado duma ilusão óptica por estarmos a medir ramos ligeiramente inclinados. Teremos pois que refazer esta medição mas, em todo o caso e por comparação com o outro eucalipto, será sempre um valor impressionante.

Mas, acreditando nos comentários do Mons Cicus, estes nem sequer serão os eucaliptos mais altos de Monchique, pelo que em breve voltaremos a essa vila em nova missão.






Aproveito ainda para divulgar que sobre esta e outras árvores do Sul de Portugal, será em breve disponibilizado um novo blogue, de minha autoria e de Miguel Rodrigues: Árvores Monumentais do Algarve e Baixo Alentejo.
O mesmo não está ainda disponível para consulta por estar sob construção e em processo de registo de conteúdos através da Inspecção-Geral das Actividades Culturais.